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Renfield: Dando o Sangue pelo Chefe

Renfield

Renfield: Dando o Sangue pelo Chefe

Renfield: Dando o Sangue pelo Chefe, 2023

“Ancorado principalmente pelo carisma de seus atores, o filme anda pela corda bamba entre o cômico e o enfadonho.”

Gustavo Lomba

Logo quando os primeiros trailers de Renfield saíram, ficou claro qual era o intuito do filme. Sem esconder participações ou revelações chocantes, o filme tratava de expor a relação entre um Drácula cínico e um Renfield exausto da não-vida que leva.

A mensagem do filme também é tão obvia quanto seus trailers: é uma clara exposição de uma relação abusiva de um patrão com seu empregado, levado ao limite do ridículo, pois essa relação de trabalho seria eterna, o que só reforça o argumento do longa nesse sentido.

Devo dizer que, focado na relação de empregador-empregado, tanto pelos paralelismos do filme quanto as cenas em que Renfiend está no grupo de apoio, seu resultado foi parcialmente atingido. O filme parece dialogar bem no universo de relações abusivas num espectro mais generalizado, pois foca muito mais em mostrar a dificuldade de estar em um relacionamento de codependência, além de uma mensagem edificante — à sua maneira — sobre a coragem e a força necessárias para sair dele.

Para dar ao filme a aura que precisa, a dupla de Nicholas (Cage e Hoult) atua muito bem. O primeiro para dar vida a um Drácula debochado, exagerado e até piegas, o que é muito bem reforçado na cena de abertura do filme, em que podemos ver trechos em preto-e-branco do vampiro no momento em que ele conhece seu familiar, Renfield. Já Hoult vive um personagem acuado e cansado, sem muita perspectiva do próprio destino. Juntos, ambos conseguem uma boa sinergia e, se há um núcleo do filme que avança excelentemente, encaixando na proposta do filme e amplificando seus resultados, definitivamente é o deles.

Por outro lado, o núcleo número dois do filme é muito clichê, vivendo de frases de efeito, expositividade e facilitações de roteiro para que, eventualmente, seu núcleo se una ao primeiro (da dupla de Nicholas) até o fim do filme.

O esforço de Awkwafina em entregar um tipo de personagem durona, íntegra e firme não convence, e sobra o carisma natural da atriz com seu timing cômico sempre em dia. Não questiono a qualidade da atriz — inclusive gosto muito dela — mas ter entregue a ela um personagem tão distante do que se costuma ver dela não foi das melhores escolhas. Aliás, nada do que o roteiro faz com seu lado da história foi bem arquitetado. A trama de policial incorruptível que está contra o sistema não encaixa no filme, e tudo o que podemos tirar daqui são cenas de ação — para eventualmente dar ânimo ao filme — e uma vilã mafiosa genérica, interpretada por Shohreh Aghdashloo, que assim como aparece facilmente, é descartada de maneira igual pelo roteiro.

No quesito de efeitos especiais, acredito que Renfield segue a inconstância de seus núcleos. Os efeitos práticos, sobretudo no que tange os ataques do Drácula, são bem feitos, explorando o exagero. Mas os efeitos digitais — feitos para causar um maior impacto visual — sobretudo nos combates que envolvem o próprio Renfield, são visivelmente estranhos, mas de longe isso é o que menos impacta o filme como um todo. Envolto num ar de não se levar muito a sério, você pode facilmente passar por cima desses efeitos sem quebrar sua imersão.

No resumo, Renfield: Dando o Sangue pelo Chefe tem o que contar, tem uma proposta muito interessante e um elenco de peso. Porém, é uma pena que, ao tentar dividir sua história em dois, ele tenha eleito seu pedaço favorito para encher de sangue enquanto deixa o outro passar fome.

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