Frio nos Ossos
“Frio nos Ossos traz intriga, tensão e mistério agindo como um ilusionista: direciona sua atenção para um lugar e te surpreende por outro.”
Gustavo Lomba
É difícil falar sobre Little Bone Lodge (Frio nos Ossos) sem esbarrar em algum tipo de informação que estrague sua experiência com o filme. Por sinal, recomendo que você vá ver esse filme com o menor número de informações possível, pois o ponto alto deste filme está na surpresa de sua trama.
O enredo fala sobre uma família composta por Maisy, uma adorável filha adolescente, e seus pais. O pai está em um estado catatônico, sem poder se mover ou falar. Sua mãe é zelosa e cuida da família com afinco. Porém, tudo está prestes a mudar quando um jovem – Matty – bate à sua porta pedindo ajuda, pois seu irmão – Jack – sofreu um acidente e precisa de ajuda. Desconfiada, a mãe acolhe os jovens, e o clima de tensão só aumenta no decorrer de sua conversa.
Este é um filme que não perde muito tempo em estabelecer suas relações, como acontece no recente Batem à Porta, nos jogando direto no acontecimento que acende a fagulha de sua trama. Esta decisão, que a princípio parece apenas pressa do roteiro, tem um motivo mais elegante para sua construção. Portanto, desde o início ele trabalha uma tensão psicológica entre todos os personagens envolvidos. Quando alguém gagueja durante uma resposta, quando alguém pede para que algo seja feito, quando as pessoas não se olham nos olhos para responder, o caldeirão de tensão dá seus primeiros borbulhares, para mostrar que o roteiro está muito interessado em nos deixar desconfortáveis com a situação. Sobretudo, com a inocência de Maisy ao receber dois estranhos em casa.
Mas, reforço, nesse sentido o filme é bastante dissimulado, fazendo com que informações pareçam fora de lugar, ou ainda fora de propósito. Em relação a isso, posso garantir, não existe espaço para o acaso ou desimportante no que nos é mostrado ou contado durante a execução do filme. A priori podemos ficar apenas de cenho franzido, mas o que nos é dado contribui com todo o clima de tensão e mistério que envolve o filme.
Agora, se no roteiro há um rasgo sem tamanho de elogios, o mesmo não posso dizer do uso de alguns clichês que são bem formulaicos e servem apenas para que o filme possa seguir seu caminho sem ser contestado. Então, personagens com botão de liga/desliga e tiros nunca disparados deixam o caminho um pouco mais áspero do que poderia ser de fato. O fim também pode desagradar algumas pessoas, desagradou a mim, mas mais por apelo a moralidade do que a própria cadeia de acontecimentos do filme.
Com um elenco curto os grandes destaques vão para os atores que interpretaram Matty (Harry Cabdy) e Mayse (Sadie Soverall), que dão vida a personagens muito perdidos que nos faz temer por sua segurança. A atriz que faz a mãe (Joely Richardson) também consegue passar a impressão de que a personagem sempre tem um às na manga, pelo menos até metade do filme. Quanto aos demais, servem seu propósito.
Disposto a subverter o que apresenta e criar um clima de tensão e desconfiança, Frio nos Ossos é um filme que nos estabelece um contrato contando que não leiamos as letras miúdas. Em minha opinião, a experiência final só tem a ganhar com esse floreio e, mesmo com contratempos, o saldo final é positivo. Mesmo nesse texto tive que evitar muitas informações sobre o filme, pois aposto que para aproveitar bem o filme temos que abraçar essa falta de informações. Afinal, poderíamos dizer que, por exemplo, um filme como O Sexto Sentido teria o mesmo impacto se você visse já sabendo que Bruce Willis estava morto o tempo todo?
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